quarta-feira, 11 de julho de 2007

(Passa)Tempo



Conto o tempo, que sem tempo passa
e no entanto, o tempo
faz-se em mim, como um homem se faz em si
na escuridão do berço.
Recebo-te algures por entre muralhas de pecados,
por entres sinuosos caminhos devastados
pela multidão.
Serão...
Quem ousar um dia, pensar a noite,
sem mais pecado inerte
que da vida faz lume
e da morte
recupera o sentido.
Se no tempo
encontro a virtude,
no seu passar sem coerência
encontro a dependência
de usar.
Esse odor...
esse odor que afaga e maltrata
na ânsia de te encontrar
por entre os sonhos que hão-de se realizar.
É o meu fado,
esse tempo que magoa, que rasga
a carne sem sentido, sem trajecto definido
por entre as horas do dia.
Esse dia que vive da noite,
que o Sol queima e aleija
dentro da serenidade,
dessa loucura inoportuna que é a saudade.
Mais devasso será no entanto
o olhar louco do mendigo
que perpetua as palavras
de enfado, de desespero
por entre os olhares ociosos dos poderosos.
Poderosos que do ventre da penúria,
retiram o sangue da vitória.
Se na morte me procuras
é na vida que te dou luta.
É ser destino e soldado,
que da vida sinto-te o odor.
E..., se do tempo se faz tempo
da minha morte se faz loucura.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Diário de Viagem

Simples a noite, que no embalo acalma o frio.
Entre a encruzilhada o destino é incerto, nem seta nem estrada a indicar
o adeus.
No trilho encontro a certeza da despedida, a fria navalha que na manhã
corta o destino em dois, tal como o filho rasga o ventre na hora de nascer.
O sorriso da morte, que aparece, na esperança de um mendigo,
às sortes da esmola do céu.
Sem certezas, a clareira densa, mostra o refúgio do lago, calmo como a dor que fustiga a vida, aquela vida que não existe por mais sonhos que realizes.
Não procures a luz. Aquela luz. Sim, a luz do adeus,
a luz que engana o caminho, segue a noite, o refúgio da alma,
a vida, a acção, as notas soltas na pauta,
sem sentido, ágeis, inanimadas no papel da tua herança.
A vida que agita, tortura, livre vence a ânsia, que ânsia, o aperto no coração, aquela nota, aquela fuga.
Deus!
Por entre mil dedos, dois apenas, vivos,
sedentos das notas que acalmam.
Dúvida, essa que maltrata, que enche o olhar.
O sorriso fechado abre.
O brilho da alma surge no adeus, na saudade,
na eternidade.

(29 de Julho de 2007)