segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Breathe

Porque por vezes os pensamentos que sentimos
não são apenas nossos,
e alguém houve já que
m os disse
mesmo que não dissesse o mesmo
as palavras são as mesmas.



Breathe


Breathe, breathe in the air

Don`t be afraid to care
Leave but don`t leave me
Look around and choose your own ground
For long you live and high you fly
And smiles you`ll give and tears you`ll cry
And all you touch and all you see
Is all your will ever be

Run,runlike a rabbit run
Dig that hole, forget the sun
And when at least the work is done
Don`t sit down it`s time to start another one
For long you live and high you fly
but only if you ride the tide
And ballanced on the biggest wave
you race toward an early grave

Pink Floyd

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Muss es sein? Es muss sein!


(http://my.opera.com/RichardCooper/blog/?tag=Fotografia&startidx=10&nodaylimit=1)

Tem de ser? Tem de ser!
Beethoven


"Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor
porque não há comparação possível.
Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação.
Como se um actor entrasse em cena sem nunca ter ensaiado.
Mas o que vale a vida se o primeiro ensaio da vida
já é a própria vida?
É o que faz com que a vida pareça sempre um esquisso.
Mas nem sempre «esquisso»
é a palavra certa,
porque um esquisso é sempre o esboço de alguma coisa,
a preparação de um quadro,
enquanto o esquisso que a nossa vida é,
não é esquisso de nada,
é um esboço sem quadro."


A Insustentável Leveza do Ser
Milan Kundera


terça-feira, 14 de agosto de 2007

Equador


(Lucemar de Souza)


"As ilhas são lugares de solidão e isso
nunca é tão nítido como quando partem os que apenas vieram de passagem
e ficam no cais, a despedir-se, os que vão permanecer.
Na hora da despedida,
é quase sempre mais triste ficar do que partir."

Miguel Sousa Tavares

quarta-feira, 11 de julho de 2007

(Passa)Tempo



Conto o tempo, que sem tempo passa
e no entanto, o tempo
faz-se em mim, como um homem se faz em si
na escuridão do berço.
Recebo-te algures por entre muralhas de pecados,
por entres sinuosos caminhos devastados
pela multidão.
Serão...
Quem ousar um dia, pensar a noite,
sem mais pecado inerte
que da vida faz lume
e da morte
recupera o sentido.
Se no tempo
encontro a virtude,
no seu passar sem coerência
encontro a dependência
de usar.
Esse odor...
esse odor que afaga e maltrata
na ânsia de te encontrar
por entre os sonhos que hão-de se realizar.
É o meu fado,
esse tempo que magoa, que rasga
a carne sem sentido, sem trajecto definido
por entre as horas do dia.
Esse dia que vive da noite,
que o Sol queima e aleija
dentro da serenidade,
dessa loucura inoportuna que é a saudade.
Mais devasso será no entanto
o olhar louco do mendigo
que perpetua as palavras
de enfado, de desespero
por entre os olhares ociosos dos poderosos.
Poderosos que do ventre da penúria,
retiram o sangue da vitória.
Se na morte me procuras
é na vida que te dou luta.
É ser destino e soldado,
que da vida sinto-te o odor.
E..., se do tempo se faz tempo
da minha morte se faz loucura.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Diário de Viagem

Simples a noite, que no embalo acalma o frio.
Entre a encruzilhada o destino é incerto, nem seta nem estrada a indicar
o adeus.
No trilho encontro a certeza da despedida, a fria navalha que na manhã
corta o destino em dois, tal como o filho rasga o ventre na hora de nascer.
O sorriso da morte, que aparece, na esperança de um mendigo,
às sortes da esmola do céu.
Sem certezas, a clareira densa, mostra o refúgio do lago, calmo como a dor que fustiga a vida, aquela vida que não existe por mais sonhos que realizes.
Não procures a luz. Aquela luz. Sim, a luz do adeus,
a luz que engana o caminho, segue a noite, o refúgio da alma,
a vida, a acção, as notas soltas na pauta,
sem sentido, ágeis, inanimadas no papel da tua herança.
A vida que agita, tortura, livre vence a ânsia, que ânsia, o aperto no coração, aquela nota, aquela fuga.
Deus!
Por entre mil dedos, dois apenas, vivos,
sedentos das notas que acalmam.
Dúvida, essa que maltrata, que enche o olhar.
O sorriso fechado abre.
O brilho da alma surge no adeus, na saudade,
na eternidade.

(29 de Julho de 2007)

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O Primeiro Dia

A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Sérgio Godinho

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Pedra Filosofal


Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Chuva

As coisas vulgares que há na vida

Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

Mariza

Composição: Jorge Fernando

Cemitério de Pianos

"á procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra.
Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero.
Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes,
que explode veias em todos os corpos,
que trespassa o mundo.
Eu sou capaz de correr através desse grito, á sua velocidade,
contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho,
contra mim próprio.
Eu quero.
Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele,
de vencê-lo mais uma vez e sempre.
Porque a minha vontade me regenera,
faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

José Luís Peixoto

domingo, 3 de junho de 2007

Estrela do Mar

Hoje deixo-vos caros leitores, a letra de uma
fantástica música de um excelente músico português:
Jorge Palma


Estrela do Mar

Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia, sózinho, ao relento
E ali longe do tempo, acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

"Sou a estrela do mar só a ele obedeço
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou
No princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim..."

Não sei se era maior o desejo ou o espanto
Só sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são pouco ou nada para estrela do mar

"Estrela do mar
Só a ele obedeço
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou
No princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim..."


sexta-feira, 1 de junho de 2007

Liberdade

Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues
(Lisboa, 1904-1993)

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Nenhum Olhar

HOJE O TEMPO NÃO ME ENGANOU.
Não se conhece uma aragem na tarde. O ar queima, como se um bafo quente de lume,e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse
já morrer e começasse aqui a hora do calor.
Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfiados de nuvens.
E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude.
Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente
não ande debaixo do céu mas em cima dele;
talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu
e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.
Um açude sem peixes, sem fundo, este céu.
Nuvens, veios ténues.
E o ar a arder por dentro, chamas quentes e abafadas na pele,
invisíveis.
Suspenso, como um homem cansado, ar.
Há-de ser um instante em que não se veja um pardal, em que
não se ouça senão o silêncio que fazem todas as coisas
a observar-nos.
Chegará.
Hei-de distingui-lo no horizonte.
Tão bem quanto sei isto agora, sabia-o ontem quando entrei na venda do judas e pedi o primeiro copo e pedi o segundo e pedi o terceiro.
Mais, sabia que por toda a planície se calarão as cigarras e os grilos.
De encontro ao céu, as oliveiras e os sobreiros
hão-de parar os ramos mais finos;
num momento, hão-de tornar-se pedra.

José Luís Peixoto
in Nenhum Olhar

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sugestão

É minha intenção deixar periodicamente uma sugestão
musical, literária, espectáculos, etc.

A minha primeira sugestão neste singelo blog, inclina-se
para o jazz, e para um dos meus músicos favoritos
Pat Metheny e o álbum Still Life (Talking) de 1987


http://www.patmetheny.com/

Tédio

Muito se fala no tédio da vida, nos infortúnios do trabalho,
que nos obrigam a permanecer em casa absortos de tudo e de nada, caídos à sombra do melhor que há-de vir.
Quem nunca passou horas deambulantes de espera, na esplanada de um café,
lendo o jornal na esperança de lá encontar
os esquissos do futuro, aquele que tarda a vir
e que no fim não passa mesmo
de um projecto inacabado?

No meu baú de recordações encontrei no meio de tantos
postais de filmes, um que sempre me fez sorrir... pertence a um filme chamado "Tédio" de Cédric Kahn.
Na verdade, confesso que nunca vi este filme, mas o cartaz fala por ele.


Pessoalmente, enfrento o tédio com a seguinte frase de
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada:

Há tantas coisas boas na vida,
mas a vida é a melhor.

Espera

Sentei-me no céu à tua espera.
Enquanto brincava com a lua
Era brindado por um mar de estrelas.
Ouvi louvores ao teu ser, à beleza,
à loucura de viver, à loucura de sorrir,
Mesmo quando o fim nos aconchega.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Ao Amor

Sem saber escrever
Desenhei o teu nome por entre as linhas da vida
Entreguei ao sabor da tinta
A leveza do meu pensar.
Vi-te, então... Sentada
por entre luas de prazer
Onde só tu sabes o segredo do amor.
Perguntei-te então
Porque tão longe, esticada a mão
te leva à outra margem?
Que do outro lado do mundo
te oferece o centro,
o inóspito centro onde te prendes
Onde não deixas o grito sair
E então...
Então o mundo, bem... esse mundo
Desaparece.
Como se nunca tivesse existido,
como um simples ai,
ao abrir dos olhos na manhã clara,
no despertar de uma criança.

dedicado a:
Ana Pereira a mulher que me ensinou a Amar
(texto de 5 de Abril de 2007)

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra cousa ainda.
Essa cousa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa